Joaquim, o madeirense que vende Sol no Reino Unido

Sol. Assim se chama o arroz do Paquistão que o madeirense Joaquim Sol vende no Reino Unido. Um negócio que surge na sequência de outros desde que decide seguir o seu próprio caminho e deixar os hotéis de cinco estrelas onde começa a trabalhar em Londres. Antes, em 1975, ano em que deixa a Madeira, sem saber falar inglês, vai trabalhar para a Escola Hoteleira.


Depois começa o percurso nos hotéis de cinco estrelas. Inicia na cozinha. Mas a matriz francesa do restaurante dificulta o entendimento. Oito meses depois, passa a levar comida para a sala do restaurante. Dois meses mais tarde é empregado de mesa e trabalha com vinhos.
Muda de hotel e vai para “room service”.
Vai mudando de lugares à medida dos cursos de aperfeiçoamento que as empresas facultam.
Serve figuras conhecidas como a princesa Diana, o príncipe Carlos, os actores John Travolta e James Caan, o Presidente da República, Jorge Sampaio, o presidente da África do Sul, Frederik W. de Klerk, entre muitas outras.
E com isto passam-se 20 anos. Altura em decide trabalhar por conta própria.
Sequencialmente, aposta em restaurantes, supermercados, bares e imobiliária, que começou enquanto trabalha nos hotéis. Compra casas, arranja e vende. Ou então conserva e aluga quartos.
Na conversa que tivemos no Funchal, durante a sua última viagem à ilha, confidencia que ajudou muitos portugueses. “Alguns, ainda dizem bom dia. Outros, não”, lamenta, com um sorriso irónico.
Não se dá muito bem com os bares. Vê muitas diferenças nas pessoas que os frequentam, sobretudo em comparação com as requintadas dos cinco estrelas que trabalhou.
Até que um dia, em conversas, surge a ideia do negócio do arroz. Sobretudo porque não vê portugueses nessa área. Vai falar com a pessoa indicada, habituada a lançar produtos no mercado, que conhecia dos hotéis. Vê no projecto um grande potencial e ajuda-o a entrar no mercado da alimentação que não domina.
Cria a marca “Sol”, concerteza com saudades do que deixa na Madeira. Faz o empacotamento em sacos com as cores da bandeira da Região Autónoma da Madeira, de um lado, e, no outro, coloca um nome indiano para chamar à atenção do mercado inglês. Este lado é acompanhado pelo verde e vermelho das cores da bandeira nacional. Cria uma sociedade estratégica para entrar no mercado dos muçulmanos.
Lança-se no negócio do arroz Sol há 12 anos, sempre com uma qualidade: Basmati, com três segmentos que procuram ir ao encontro, além do português, dos mercados espanhol e italiano. “É a maneira de conseguir levar o meu produto para a frente”.
Há cerca de quatro anos, numa ida a Lisboa, fala igualmente com alguém adequado para lançar produtos no mercado, com o intuito de trazer o “Sol” para Portugal. Mas bate com o nariz na porta. “É impossível conseguir entrar no mercado em Portugal. E quando digo Portugal, penso que também acontecerá o mesmo na Madeira, para onde gostaria de trazê-lo também”, confidencia. Insinua que no País existirá alguma corrupção para quem pretende lançar um novo produto. Admite que existirá legislação que dificulta as novas entradas e protege os que já estão.
Em termos processuais, o arroz é comprado integralmente no Paquistão. Tem um contrato de exclusividade com o produtor, renovado a cada cinco anos, a quem adquire toda a sua produção, independentemente da variação que possa ter. Compra o arroz directamente, sem intermediários, o que permite tê-lo no mercado com preços competitivos.
Está satisfeito com as vendas médias de 50 toneladas por mês, que crescem sustentadamente. Sublinha que não vende mais porque não quer. “Sinto-me bem como está”.
Além do arroz, tem em mente investir noutras áreas na Madeira, como a imobiliária e erguer um grande bar “à moda antiga”, não deixando nunca Londres.
No entanto, mantém outros negócios, como o bar, cuja gestão é de terceiros, e ainda tem a compra e venda de casas, assim como o aluguer de quartos.
Junta-se a tudo isto a compra de um castelo, num terreno de 185 hectares, que inclui casas. Adquire-o num leilão por um preço que opta por não relevar. Nem tão pouco fala do seu nome. E, a muito custo, lá revela que fica na Escócia.
Adianta que não pode reconstruir porque integra o “Great British Heritage”, que inclui cerca de 500 propriedades históricas do Tesouro Nacional, do “English Heritage” e propriedades privadas, como é o caso da de Joaquim Sol.
Além disso, não quer vendê-lo. Quer mantê-lo na família até as próximas gerações. Só a partir do seu último bisneto é que pode ser vendido.
É ainda accionista da White Bread Company, detentora de várias marcas no Reino Unido. É accionista desde 1980 e diz que sempre investiu os lucros em novas acções.
À actividade profissional junta-se o facto de ter sido um dos fundadores do Santacruzense de Londres, que o fez com José Coelho, João Spínola e Manuel Garcia, já falecido. Uma ligação a Santa Cruz, onde nasceu, e onde jogou na equipa de futebol, nos juniores e nos juvenis, e foi atleta no atletismo.
Escreve uma música dedicada ao seu clube e dá a cantar. Além disso, faz uma acerca do seu arroz Sol, que já tem uma segunda versão.

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